AOS 40 ANOS...

Chego muito consciente. Não culpo ninguém, nao me apoio em nenhuma desculpa e tampoco me faço de desentendida ao que não me interessa. Apenas mergulho para dentro e buceo sobre o que consegui plantar, fazer crescer e colher até aquí.

Ainda me vejo como uma menina que um dia cresceu, se entendeu como grande mas que nunca deixou de ser aquela criança que ganhou vida para DAR-SE VIDA.

Assim, vim parar aquí. Sabia que para viver a vida precisaría da minha menina que cresceu com o nome de Raquel.  

Através das fotos recupero a minha memória infantil, vejo e SINTO o quanto eu pude ser criança e o quanto a minha menina foi amada. A minha infância soube me dar tudo e  toda a base para que eu crescesse olhando para dentro de mim, sem me perder de quem eu seria.

Os 40 anos te reverencia infância minha. Você foi PERFEITA. Foi feita à medida para mim. Você me esperava, sabia que eu viria, sabia que precisaría me encher de coragem, de resiliência, de misticismo para que eu soubesse DAR-ME VIDA quando a vida me exigisse.

Raquel, minha menina grande,  eu te abraço e te devoro aos 40 anos. 

Tornei-me uma INTERESSANTE mulher. Sinto a minha significância e a minha importância como ser humano. Sou necessária não para duas dúzias de pessoas, sou necessária para a evolução entre todos. Para onde eu olho me vejo refletida. Seja na inveja, na raiva, na alegría, na prepotência, no ciúme, na posse, no controle, na melancolía, no entusiasmo, no perdão, no sorriso, na exigência, no amor e no desamor. Estou por todos os lados, estou dentro de cada um de vcs.

SOU projeção e reflexo. SOU, SOMOS UM.  

Hoje, me identifico com essa flor única que se chama Raquel. Nao há outra igual. Desculpe-me , mas ela é muito BELA.

Bela em ATITUDE, ainda quando se equivoca.

Aos 40 anos consigo comungar do auto-perdão e do olhar generoso comigo mesma.

Sei que SOU INFINITA. Já não tenho pressa, nem metas inatingíveis, apenas não quero sofrer pelo desnecessário. Quero seguir sem muito compromisso, sem ter que atender, assumir e responder a crenças que já nao fazem parte da minha consciência.

Sei que SOU LIVRE. Livre de pensamento, de corpo e de fala. Apesar de ser uma conquista diária, sei que esse direito me pertence.

Sei que SOU MAE QUE EDUCA. Sou mae que conversa sozinha e com o espelho, que se AUTO-EDUCA para saber educar.

Sei que SOU MULHER. Toco-me, reconheço-me através da prática do amor próprio diariamente.

Sei que SOU FILHA em superação. Canso-me, mas nunca abandono.

Sei que SOU tudo o que eu quiser. Vim da amplitude, da essência das possibilidades, do bem maior. Vim do amor incondicional, vim de onde todos SOMOS.

Sei que POUCO sei. Aliás, nada sei. Creio que por isso creemos saber tanto.

Sei que preciso ESTAR EM ALERTA. A auto estima nunca foi meu prato preferido, a pesar de saber oferecê-la aos demais como prato principal.

Sei que tenho ALMA DE ARTISTA. Ela me pesa, muitas vezes, me dá trabalho, me tortura em días de fogueira.

Sei que aquí ESTOU. Quero ESTAR, deixe-me ESTAR.

Aos 40 anos sinto que a minha vida tem sabor, tem tempero, tem culinária básica e erudita.

Nao chego discreta aos 40. Chego em plena ebulição e comunhão comigo. Chego com pouca roupa, com um olhar aberto e com uma certeza:

•                                              - Nao sou Raquel, apenas ESTOU como Raquel -